DJ Alex Hunt fala sobre a regulamentação da profissão DJ

Entrevista concedida à Vivian Silva - Redação RMC

Vivian Silva - Desde quando existe o projeto para regulamentar a profissão de DJ e Produtor de DJ?
DJ Alex Hunt - Bom, a luta para que houvesse uma lei redigida, e que fosse abrangente, tem aproximadamente 6 ou 7 anos se não me engano, pois não estou desde o começo do projeto de lei.

Vivian Silva - Como surgiu o projeto?
DJ Alex Hunt - Surgiu da necessidade de fazer algo que diminuísse a atuação dos “paraquedistas”, que começavam a entrar no mercado DJ, sem a mínima noção no que estavam se metendo. Mais ou menos como o cara que compra um estetoscópio e sai falando que é médico. Eu também tinha a consciência de que precisávamos fazer algo, para ter uma regulamentação, pois até a presente data DJ não existe no jurídico trabalhista.


Vivian Silva -  Quais foram as principais diretrizes, que nortearam a elaboração do texto?
DJ Alex Hunt - Desde que redigi o texto original, muitas modificações foram feitas em Brasília. Uma delas era que no texto original sugeri a criação da categoria DJ, que infelizmente não aconteceu, pois acharam que o DJ se encaixa na já existente “Artes e Espetáculos”. No entanto no texto original, que foi para Brasília, destaco 3 tópicos:
- 70% do line up com DJs do Brasil (algo que é realidade em vários países que tem festas grandes, e tem um percentual alto dos DJs locais).
- Criação de uma “diretriz base“ para que todos cursos de DJ tenham o mesmo nível de ensino sobre a profissão, com foco no lado “ético“ e cada um adaptasse isso no seu curso ou apostila.
- Uma postura de deveres e obrigações tanto do DJ, para com o seu contratante e vice-versa.

Vivian Silva - Atualmente como está o projeto?
DJ Alex Hunt - Até aonde acompanhei, o projeto havia passado em todas as instâncias e faltava somente a assinatura do presidente da república. (Informação passada pelo Antônio Carlos "AC" presidente do Sindecs).

Vivian Silva - Qual é o seu papel no Sindecs?
DJ Alex Hunt - Sou o cara chato que fica do lado de fora cobrando melhorias, apontando defeitos, ajudando de certa forma com alguns conselhos e por aí vai! Tentando ser a voz de muitos DJs, que acabo conhecendo ou não nas minhas viagens, que vivem uma realidade diferente da que conhecemos por aqui. E tentando colaborar com a cena de alguma forma, assim como fiz com os vídeos do DJ history que tem o único intuito de educar.

Vivian Silva - Quais benefícios são previstos com a aprovação da lei?
DJ Alex Hunt - Ter o que não temos até agora, uma profissão, direitos e deveres! Por essas e outras você não vê DJ saindo por aí comprando estetoscópio e se denominando cirurgião neurologista! Porque na medicina, por exemplo, levam os “x” anos de estudo muito a sério. Entendo que muitos falarão, que analogia louca, pois medicina é muito mais importante do que um DJ em uma cabine de som, mas volto a frisar perder noites de sono, viajar às vezes por 4 horas ou mais em avião ou ônibus, e ver um artista de TV pegar as pick-ups, só porque deu na “telha” dele ser DJ, porque cansou da vida de modelo, ou de galã de novela da noite para o dia, na minha opinião é algo sério e muito desconfortável, para o profissional de cabine que vive disso e tem sua vida toda empenhada em viver isso a flor da pele.

Vivian Silva - Existem pessoas contra este projeto?
DJ Alex Hunt - Sim, principalmente alguns donos de agência, que chegam ao ponto de mandar torpedos para participantes de debates televisivos botando “lenha na fogueira”, para tentar tirar a credibilidade das pessoas envolvidas no projeto de regulamentação, ao invés de sentar a mesa de forma civilizada, para justamente ajudar a moldar uma lei para um mercado melhor e mais organizado, que trará inclusive mais benefícios a ele mesmo!

Vivian Silva - Quais motivos alegam quem é contra a regulamentação da profissão?
DJ Alex Hunt - Alguns por causa de um suposto diploma, que jamais existiu e foi confundido com um tipo de termo de capacitação que seria o DRT. Outros são donos de agência e não querem vínculo empregatício com o DJ, no entanto, é a lei que determina a necessidade de algum vínculo empregatício com quem presta serviço a você. Seja pela carteira, recibo, contrato ou o que quer que seja. Se o cara quer burlar a lei trabalhista, aí são outros “500”. Pois além de ser crime, mostra que uma regulamentação só colocaria as coisas no seu devido lugar.
Alguns porque acham que sindicato é máquina de ganhar dinheiro, e que existem pessoas mal intencionadas por lá. Nesse ponto não tiro a razão desses, porque eu estou justamente fiscalizando o sindicato sempre por causa disso, pois também tenho uma má impressão de sindicato em nosso país. Prefiro apostar primeiro, para poder criticar depois!

Vivian Silva - Qual sua análise sobre a profissão de DJ no Brasil?
DJ Alex Hunt - Particularmente acho que perdemos o foco do que nos levava a ser DJ antigamente, não de uma forma nostálgica, mas sim pelo que nos motivava: amor a música, vontade de mostrar suas músicas para outras pessoas, vontade de aprender mais com música, isso deixou de vigorar, assim que a profissão teve os "holofotes" virados para ela. Lembro que tocava escondido embaixo de uma escada ou dentro de um bar, além de tocar de costas, e que somente em 1987 tivemos as primeiras cabines onde o DJ aparecia. Entrei nessa porque amo demais o que faço, tanto que todas as ramificações do meu trabalho têm a ver com música (remix, locução, produção, discotecagem etc).
Quando vejo em algumas publicações, livros sobre DJ por aí, o “timeline“ todo errado, ou mostrando a profissão de forma depreciativa, me dói por dentro, pois assim como eu, muitos viveram e vivem na pele toda história de algo, que era precário, e que virou um lance meio de “holofotes”.

Vivian Silva - Qualquer DJ poderá ter sua carteira de trabalho assinada pelo empregador ou haverá algum critério?
DJ Alex Hunt - Desde que existe a carteira de trabalho, existem leis que determinam que o empregador deve acertar com o empregado, como vai ser justificada a prestação de serviço dada pelo mesmo. No interior, por exemplo, vemos muito uma única casa noturna na cidade ou região, sempre lotada, e que paga muito mal o DJ . Essa lei ajudará a amparar muito mais esse DJ, do que o profissional que já esta com a vida feita ganhando seus “10 paus” como a maioria dos DJs nos grandes centros. Que ironicamente foram os que mais se manifestaram contra o projeto sem sequer ler a lei, para entender o que havia ali, antes de criticar. Encontrei vários deles esporadicamente, e 80% não sabiam sequer interpretar o que estava ali escrito.

Vivian Silva - Existirá um piso salarial?
DJ Alex Hunt - Seria injusto estipular um piso, haja visto que temos realidades diferentes em todo país. Seria impossível fazer isso de forma justa e igualitária!

Vivian Silva – Hunt caso queira deixar algum comentário, fique a vontade.
DJ Alex Hunt - Não é uma lei, que vai melhorar o mercado, mas sim a contribuição de cada um que é envolvido com a cena DJ, para que possamos lembrar de quem somos, e porque nos tornamos DJs. Se cada um colaborar de forma positiva sem preguiça de buscar informações, e indo direto nas fontes ainda existentes, antes que as matrizes do mercado se percam (pois já vimos que a morte não escolhe esse ou aquele), acho que poderemos ajudar o mercado. Vejam todo material real, que há por aí da cena DJ e aprenda com quem fez esse mercado para você DJ aspirante, que hoje vive a bênção de viver do que ama. E obrigado ao RMC pelo espaço! Good vibes. Hunt.

Serviço:
Site do DJ Alex Hunt: www.djalexhunt.com.br
Mais informações sobre o projeto de lei nº 740, de 2007 no site do senado

FONTE: http://www.riomusicconference.com.br/

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS